Terapêutica Tântrica ou Terapia Tântrica?, por Julio Zorba

Sinto que é um debate oportuno, necessário e urgente!

Refletir e procurar sistematizar qual a nossa compreensão sobre o significado e alcance dos conceitos de Terapêutica e Terapia Tântrica parece-me oportuno e imprescindível para o nosso amadurecimento como categoria profissional.

Pretendo lançar luz sobre alguns aspectos que penso serem indispensáveis ao debate, sem, contudo, ter a pretensão de apresentar postulados, afirmações ou fatos admitidos sem necessidade de demonstração. Proponho o bom debate, plural e transparente.

O bom debate deve ser feito com a presunção de que todas as pessoas expressam suas opiniões de boa fé e pautados pelo respeito às divergências e a responsabilidade que devemos ter para com a sociedade.

Quando reflito sobre a necessidade de maior clareza acerca da abrangência da Terapêutica Tântrica e/ou da Terapia Tântrica, na minha opinião equivocadamente tratadas como iguais, não me ocupo da delimitação conceitual ou metodológica daquilo que chamamos Tântrica e que qualifica a abordagem de nosso trabalho.

Preocupa-me mais, e sobretudo, com o entendimento e a delimitação conceitual do que caracteriza a Terapêutica e a Terapia. Para mim, esse é o ponto!

Desde a criação da Associação Brasileira de Terapeutas Tântricas e Tântricos – ABRATANTRA, há pouco mais de dois anos, temos debatido em nossos fóruns sobre esse tema. Parece-nos ainda insuficiente o nível de formulação e consenso construído em torno da conceituação do que vem a ser a chamada terapêutica tântrica ou terapia tântrica, ambas designações utilizadas para referir-se ao objeto de nosso trabalho.

O conceito de Tantra, que assumo, para os fins pretendidos neste artigo, refere-se apenas aos valores e princípios, que se encontram presentes em nosso Estatuto Social:

“…a ABRATANTRA observará os valores da aceitação plena, amor incondicional, desrepressão e matriarcado. Da mesma forma, pautar-se-á pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade administrativa, publicidade, economicidade, pluralidade e da eficiência, e não fará distinção alguma quanto à deficiência, raça, cor, gênero, orientação sexual, condição social, orientação política ou religiosa”. (ABRATANTRA, 2020)

Assumo como ponto de partida o entendimento sobre a origem de cada uma das expressões que dão título a este artigo, Terapia e Terapêutica:

“Terapia, provém do grego therapeía, do verbo therapeúo, que significa “prestar cuidados médicos, tratar”. O termo foi usado em medicina por Hipócrates e Galeno, que se referiram à terapia médica e cirúrgica para designar os cuidados com os enfermos visando a obter a cura das doenças. Do grego, a palavra passou para o latim e, deste, para as línguas modernas com o sentido abrangente de qualquer meio ou procedimento usado no tratamento dos enfermos, dando origem a compostos como farmacoterapia, fisioterapia, hidrotrapia, radioterapia, psicoterapia etc.

Terapêutica é uma tradução do grego therapeutiké, que não é o mesmo que therapeía e, sim, a arte, a ciência de escolher as terapias adequadas às diversas doenças. É uma parte da medicina, como a anamnese, o diagnóstico e o prognóstico. Há em grego outros exemplos semelhantes, como em maieusis, parto, e maieutiké, a ciência, a arte de fazer partos; ermeneusis, interpretação, e ermeneutiké, a ciência, a técnica de interpretação de textos”. (REZENDE, Joffre Marcondes de, 2010)

Daí temos as primeiras referências para o nosso propósito, quais sejam, de que Terapêutica Tântrica referir-se-ia à “ciência de escolher as terapias adequadas”, dito de outra forma, a Terapêutica Tântrica sempre envolverá um processo e/ou plano terapêutico, enquanto que a Terapia Tântrica à “meio ou procedimento usado no tratamento dos enfermos”, ou seja, as abordagens, técnicas e ferramentas utilizadas para consecução do processo e/ou plano terapêutico.

Acrescento uma terceira dimensão, diferente dessas, mas sobre a qual penso residir parte das visões que comparecem neste debate, a do efeito terapêutico.

Por efeito terapêutico podemos entender o conjunto de consequências, resultantes ou legados de determinadas e diversas abordagens, ferramentas, técnicas, hábitos e atitudes em nossa vida, utilizadas ou não como parte de um processo terapêutico.

O que significa dizer, sob essa perspectiva, que “tudo” pode em tese ter um efeito terapêutico, dependendo do momento, das necessidades e do processo em que cada pessoa se encontra. Assim, massagem pode ter efeito terapêutico, dança pode ter efeito terapêutico, respiração pode ter efeito terapêutico, meditação pode ter efeito terapêutico, bater papo com amigos pode ter efeito terapêutico, sexo pode ter efeito terapêutico, as cores podem ter efeito terapêutico, os aromas e perfumes podem ter efeito terapêutico etc, etc, etc… acho que essa lista nunca acabará…

Mas quando é mesmo que uma determinada prática que tem efeito terapêutico passa à condição de terapia e, inserida em um processo ou plano terapêutico, passa a compor uma determinada terapêutica????

Isso ocorre, quando a prática em questão é experimentada, analisada e sistematizada por meios empíricos e/ou científicos que possibilitam sua sistematização em metodologia fundamentada.

Para tornar-se terapia ou terapêutica não bastam as evidências de seu efeito terapêutico para promover, recuperar ou reabilitar a saúde de uma pessoa. É preciso mais! É preciso que haja sistematização metodológica capaz de demonstrar onde, como e quando a prática (abordagem, ferramenta ou técnica) se insere no processo terapêutico.

Essa me parece a grande confusão que algumas pessoas fazem e que pode levar a uma falsa polêmica entre nós.

Não se trata e nunca se tratou de delimitar o que vem a ser Tantra como referência de filosóficas, comportamentais, espirituais ou de valores. Partilho da opinião que isso é personalíssimo, individual e da consciência de cada um(a). Cada um sente o Tantra em sua vida e sabe como ele, de fato e verdadeiramente, influencia a sua vida pessoal e profissional.

A questão é que não seria socialmente responsável atribuir caráter de Terapia e menos ainda de Terapêutica a uma prática, ainda que conhecidos seu efeitos, sem que tenhamos realizado exaustivo trabalho de campo e a, consequente sistematização em método, como aliás o fez Deva Nishok ao colocar a massagem tântrica nessa condição.

Assim ocorre com as ciências em todo o mundo e, repito, aqui não se trata de Tantra, que não é dual e nem submetido a postulados científicos, mas antes e somente à caracterização de um processo conduzido por profissional capacitação e que tem um propósito terapêutico com pressupostos e metodologia claros, como ocorreu com tantas outras áreas da saúde que poderiam servir de exemplo.

O terapeuta é o profissional dentro da segmentação da saúde que se dedica aos cuidados e à reparação de problemas danosos à saúde. É o profissional capacitado para a condução de um processo ou plano terapêutico, é o profissional que domina terapias e está apto a exercer a terapêutica.

Visto assim, o mero domínio de determinadas técnicas dissociadas de um processo um processo terapêutico não é suficiente para que o profissional que a conduz seja ou atue como terapeuta. O processo terapêutico requer anamnese, escuta atenta, zelo com os processos de transferência e contratransferência, estabelecimento de metas e de estratégia terapêutica e, por óbvio, definição das terapias que serão utilizadas.

O atendimento dissociado de processo terapêutico é legítimo, valido e nada tem de inadequado, apenas, não deve e não pode ser caracterizado como Terapêutica Tântrica, ainda que conduzido por terapeuta, dito de outra forma, a(o) terapeuta tântrica(o) pode atender sem plano terapêutico se o propósito buscado pela(o) cliente for apenas uma ou mais sessões desprovidas de tal caráter. Aliás, até onde pude apurar nesse período à frente da ABRATANTRA, é o que mais ocorre. Clientes de atendimento único ou esporádico.
Mas se a(o) cliente busca um processo de promoção, recuperação e reabilitação de sua saúde e escolhe a Terapêutica Tântrica como meio para isso, a(o) profissional terapeuta que irá conduzir o processo deverá atender a condutas específicas esperadas de um(a) profissional da saúde.

Por isso, defendo que a(o) terapeuta deve se abster do uso de técnicas que ainda não constituem terapias que integram a Terapêutica Tântrica e, fazê-lo apenas quando, de comum acordo com a(o) cliente, não infringir o Código de Conduta Profissional de Terapeutas Tântricas e Tântricos ou claramente dissociadas do plano terapêutico.

Por fim, espero que este debate seja estímulo para nosso aperfeiçoamento como indivíduos, como terapeutas e como categoria profissional.

Julio Filgueira – Deepak Zorba – Coordenador Geral da ABRATANTRA

Blog: www.megustaeltantra.com

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